terça-feira, 8 de julho de 2008

Ordens dos Médicos e Enfermeiros criticam posível criação da carreira de paramédicos

A defesa de uma nova carreira de paramédicos pelo presidente do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) foi mal recebida pelas Ordens dos Médicos e dos Enfermeiros, mas aplaudida pela Associação de Medicina de Emergência.

O presidente do INEM, Abílio Gomes, disse hoje que dentro de três anos a revisão do orçamento do Instituto terá de acompanhar a nova dimensão de respostas e para tentar combater a falta de meios humanos, o responsável defendeu a criação de uma carreira profissional semelhante à dos paramédicos.

"Criar uma carreira profissional que valorize a intervenção dos actuais tripulantes das ambulâncias de socorro e de emergência. Valorizá-los até que pudessem ter capacidade de actuação semelhante à dos paramédicos", afirmou, em entrevista à Antena 1.

O presidente da Associação de Medicina de Emergência, Vítor Almeida, recordou à Lusa tratar-se de uma reivindicação antiga e que a ser implementada apenas "peca por tardia", sublinhando que o termo a usar deve ser "técnico de emergência médica" para estar conforme ao usado internacionalmente.

Já o Bastonário da Ordem dos Médicos, Pedro Nunes, referiu, em declarações à Antena 1, "ter alguma dúvida sobre se vale a pena criar uma carreira profissional se não tivermos a garantia para dar a esses jovens que se vão encaminhar para essa carreira [de lhes] darmos efectivamente uma profissão para a vida".

"Hoje, por exemplo, os profissionais de enfermagem não são totalmente absorvidos pelo sistema de saúde e podia ser mais inteligente dar uma formação complementar em emergência para os enfermeiros do que propriamente criar uma nova carreira e criarmos um conjunto de pessoas sem capacidade de fazer mais nada senão aquilo para que foram treinados e que eventualmente os nossos serviços não iriam absorver", afirmou Pedro Nunes.

Quanto à Ordem dos Enfermeiros, garante em comunicado não se justificar a criação de uma nova carreira e considera "profundamente preocupante" que essa possibilidade "seja alicerçada em critérios economicistas", uma vez que "pode significar um caminho de diminuição da qualidade da assistência pré-hospitalar".

Para os enfermeiros, a posição de Abílio Gomes é defendida "aparentemente ignorando o potencial que pode ser oferecido pelos 'parceiros fundamentais' de Março e sem que o tal Plano Estratégico sequer tenha chegado ao papel".

Em causa está a reunião de Maio último com o responsável do instituto, que apontou os enfermeiros como "parceiros fundamentais na área da Emergência pré-Hospitalar" e disse contar "com o contributo da OE para a definição de um Plano Estratégico Nacional para esta matéria".

A OE argumenta que seria encontrada "melhor capacitação" nos enfermeiros que estão "preparados de base para o atendimento da globalidade de cada doente", reafirmando, porém, que não se opõe à melhoria da "capacitação dos tripulantes de ambulância, uma vez que isso contribui para uma melhoria na complementaridade das respostas de saúde aos cidadãos".

Comentando estas posições, Vítor Almeida instou Pedro Nunes a "clarificar publicamente a sua posição", sublinhando que é contrária à própria comissão de urgência da Ordem dos Médicos que também defendeu a nova carreira.

"O bastonário poderá enfrentar resistência interna à sua posição individual e que tem a discordância dos profissionais com competências e que estão no terreno. Mas acredito que com o bom senso que tem demonstrado é uma questão para ser dialogada e rapidamente resolvida", disse.

A Lusa tentou, sem sucesso, contactar o bastonário da Ordem dos Médicos.

Sobre a posição dos enfermeiros, Vítor Almeida diz "não compreender" a sua resistência à ideia de uma nova carreira quando está a ser aceite a nível universal, existindo países a adoptar "de raiz um sistema com as três classes profissionais".

"O papel dos enfermeiros é indispensável e deve ser reforçado num sistema baseado no médico de emergência" acrescentou ainda.

Sobre a hipótese de serem desnecessários três helicópteros de emergência por se manterem abertos serviços de urgência, Vitor Almeida concordou com o possível abandono de uma decisão "irreal e fora do contexto" e defendeu o uso de dois aparelhos da Protecção Civil actualmente "sub-aproveitados".

Público